segunda-feira, novembro 19, 2018

AntiGlobalismo

A escolha do diplomata Ernesto Araújo para chefiar a diplomacia brasileira é um sinal extremamente claro dos rumos que a política externa tomará nos próximos anos. Para compreender melhor a visão de mundo do Presidente-Eleito e as ideias do novo Chanceler, recomendo a leitura do artigo “Trump e o Ocidente”, publicado nos Cadernos de Política Exterior da Fundação Alexandre de Gusmão.

O mundo enxergado pelas lentes do novo governo se assemelha a visão adotada na atual administração norte-americana e também em outros países. Um movimento de valorização dos elementos formadores das nações ocidentais como instrumentos essenciais balizadores dos valores de democracia e liberdade. Um movimento em contraposição ao globalismo, que visa criar um amálgama de valores que deve ser adotado pelo maior número de países indiscriminadamente. 

Os valores universais adotados pelo globalismo são propagados por instituições internacionais que tiveram sua agenda sequestrada por estes movimentos ao longo das últimas décadas. Ao invés de defender a autodeterminação e os valores nacionais de cada nação, visam reformar os sistemas fazendo-os adotar políticas ditas universais que atacam os valores de formação de cada uma destas sociedades. O movimento mais recente é em direção da reforma dos valores ocidentais, que precisam ser regatados e fortalecidos por governos que entendam esta realidade.

O mais importante movimento neste sentido vem da eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. Washington começou um movimento de regaste dos valores nacionais, elementos formadores da liberdade e da democracia ocidentais, que permaneciam submetidos ao pensamento único internacional. Este movimento respeita as diferenças nacionais na certeza de que não existe valor supremo que deve prevalecer perante qualquer país. Portanto, a resistência é enorme especialmente nas frentes organizadas que trabalham pela implementação desta agenda. 

A eleição de Trump, a saída do Reino Unido da União Europeia e a resistência de alguns governos europeus contra o globalismo tornaram-se focos de resistência ao politicamente correto e a adoção de um pensamento único hegemônico internacional. Neste momento, o Brasil, diante da guinada conservadora adotada nas eleições deste ano, toma o mesmo rumo, somando-se aos esforços pelo resgate dos valores nacionais como elementos essenciais da formação de nossa identidade democrática ocidental. 

A escolha de Ernesto Araújo para dar rumo nesta agenda é acertada, pois está alinhada com o pensamento do Presidente-Eleito, consagrado nas urnas menos de um mês atrás. A globalização no sentido de incremento pragmático de nosso comércio internacional também será um pilar essencial desta reconstrução. O globalismo, entretanto, que não se confunde com este conceito, sai de cena no mesmo momento que o país reafirma seu compromisso com a democracia e sua autodeterminação como nação.

sexta-feira, novembro 16, 2018

Nova Política Externa

A escolha do diplomata Ernesto Araújo foi uma decisão acertada de Bolsonaro. O Embaixador possui experiência para ocupar a posição e carga intelectual necessária para enfrentar o desafio. Pertence a uma linhagem minoritária no Itamaraty, ou seja, daqueles que rejeitam o globalismo como elemento essencial nas Relações Internacionais e acredita nos valores formadores da sociedade ocidental como elemento fundamental de identidade de nações como o Brasil.

As críticas que surgiram em relação ao seu nome são meramente de caráter ideológico, daqueles que discordam de sua visão de mundo. Entretanto, sua visão de mundo é a mesma defendida pelo Presidente-Eleito e por 55% da população que optou por Bolsonaro como Presidente. Em última instância, as ideias defendidas pelo novo Chanceler estão em sintonia com o desejo de mudança expresso pelo povo nas urnas.

Certamente Bolsonaro não escolheria um nome que não conseguisse imprimir rumo para a política externa brasileira na medida desejada pelo Planalto. De nada adianta um Presidente escolher um Chanceler que não está de acordo com seus projetos de política externa. É preciso escolher um nome experimentado, com densidade intelectual e afinado com o projeto presidencial vitorioso nas urnas. Ernesto é um nome que se enquadra em todas estas frentes.

O Brasil viveu sob uma política externa de viés esquerdista e globalista que imprimiu sua marca no Itamaraty, afinal, o Ministério servia a política externa do vitorioso nas urnas, Fernando Henrique e depois Lula e Dilma. O que ocorre agora é o sentido oposto. Eleito um governo conservador, nada mais natural que a frente internacional também adquira estas feições, afinal o governo foi eleito exatamente para implementar estas políticas.

As tentativas de impor um nome de um campo ideológico oposto ao do Presidente-Eleito não cessaram. Desde a sugestão de diplomatas alinhados com a social democracia tucana, até outros, que apesar de transitarem entre o petismo, rejeitam este rótulo. Até políticos derrotados nas urnas surgiram como alternativas. As tentativas foram em vão. O Presidente-Eleito tem certeza absoluta do caminho que deve trilhar e a escolha de Ernesto como Chanceler, mais do que uma simples escolha, é um sinal de respeito emitido por Bolsonaro aos 57 milhões de brasileiros que disseram claramente semanas atrás que desejam um novo rumo para o Brasil.

quinta-feira, novembro 08, 2018

Aumento Vergonhoso

O reajuste dos vencimentos dos ministros do STF trará desdobramentos sérios para a caótica situação das contas públicas brasileiras, que depois de bagunçadas por Dilma, nunca mais encontraram o caminho do equilíbrio. Os sucessivos déficits dificultam a imagem do Brasil no exterior e a vida dos brasileiros.

O aumento concedido produz efeitos perigosos. Mas os parlamentares que aprovaram a medida preferiram dar de ombros para a opinião pública, que já cassou nas urnas o mandato de muitos deles, que em breve voltam para casa. Não há certeza se a aprovação foi um ato de rebeldia ou troco contra o povo. Independente do motivo, os parlamentares que votaram por aumentar o teto, votaram contra o Brasil.

O aumento para o Judiciário está condicionado a um fato: a suspensão do auxílio moradia - aquilo que foi negociado com o governo Temer. O aumento de despesas começa no Judiciário, mas se espalha por todo Estado brasileiro em efeito cascata, aumentando o custo das contas púbicas em mais de 6 bilhões - em várias esferas e níveis da administração pública. Em tempos de ajuste fiscal e busca de credibilidade no exterior, não poderia haver notícia pior. Os parlamentares ao votar esta chamada "pauta bomba" ajudaram a inviabilizar o ajuste das contas públicas brasileiras.

Não possuímos apenas um dos judiciários mais caros do mundo, mas também o país onde os magistrados recebem os salários mais altos em relação a média da população. Enquanto no Brasil corresponde a 16 vezes a renda média, na União Europeia, um juiz da Suprema Corte dos países do bloco ganha 4,5 vezes mais que a renda média do continente. Como vemos, uma distância que era enorme, acaba de aumentar ainda mais.

Os parlamentares e os magistrados deveriam primeiro olhar para o país, mas parecem estar descolados da realidade. Precisamos de maior renda para poder distribuir riqueza. O caminho escolhido é oposto, que vai contra tudo aquilo que o eleitor esboçou nas urnas semanas atrás. Ao aprovar medidas como esta, de aumento sem receita, os políticos parecem não ter escutado a voz das ruas, colocando-se de costas para o povo. A eleição de Bolsonaro foi apenas a primeira reação de um povo que cansou deste estado de coisas.

terça-feira, novembro 06, 2018

Racionalidade Pública

Receita Federal resiste à ideia de Coaf passar para a pasta da Justiça. MMA resiste a se fundir com o MAPA. Itamaraty resiste a transferir a Embaixada para Jerusalém. Ministério do Trabalho, em vias de ser extinto, divulga nota reafirmando sua importância. As mudanças realizadas por Bolsonaro estão movimentando o desenho do novo governo e mexendo com interesses pré-constituídos.

Fato é que Bolsonaro foi eleito exatamente para realizar estas mudanças. Entre elas está enxugar o tamanho do governo, cortando sua ineficiência. Nenhuma administração pública consegue ser viável carregando 29 ministérios, como possui Temer ou 39, como possuía Dilma. O tamanho ideal passa pela casa de 15 pastas, como tivemos durante muito tempo no Brasil.

O problema foi que o presidencialismo de coalizão fatiou as pastas como forma de conseguir apoio no Congresso Nacional para governar. O loteamento da administração pública passou a fazer parte do cotidiano dos governos, que submetendo-se ao modelo, tornou-se refém dos partidos que se multiplicaram pelo parlamento.

A administração pública serve para administrar, ao contrário de lotear, como tem acontecido no Brasil. O grande problema é que proliferação de ministérios vem acompanhada da multiplicação de cargos, algo que somente aumenta a ineficiência, que precisa ser atacado para que o governo possa cumprir com o seu papel.

Bolsonaro deve voltar ao modelo ministerial original, com pastas como Justiça, Relações Exteriores, Infraestrutura, Ciência e Tecnologia, Agricultura, Economia, Defesa, Saúde, Interior (também chamada de Integração Nacional), Educação, Minas e Energia e Desenvolvimento Social. Meio Ambiente e algumas outras pastas podem ser incorporadas. Nada melhor para a coordenação dos trabalhos e também para a prestação de serviços. Já passou da hora de o Brasil optar pela racionalidade na administração pública.

Reinventar o Sistema

A eleição de Jair Bolsonaro para o Planalto é algo muito mais significativo, em termos históricos, do que vem sendo dito. Para além de encerrar mais um ciclo de 30 anos na política brasileira e implementar uma guinada conservadora, tudo indica que o novo governo inaugurará uma nova forma de fazer política, tentando colocar um ponto final no presidencialismo de coalizão em vigência desde o começo da Nova República.

A sistemática atual começou com o governo Sarney, mas encontrou seu auge nos governo Lula e Dilma, quando a pulverização partidária tomou conta do parlamento. A lógica é simples: os partidos ocupam lugar no governo e entregam votos no Congresso Nacional. Mas o mecanismo não funciona de forma tão simples. Caciques tem precedência nas indicações dentro dos partidos e muitos deles mesmo recebendo espaço na Esplanada e estatais, seguem rachados, negociando de forma fatiada. 

Tudo isso alimenta o sistema de corrupção, que usa o presidencialismo de coalizão como instrumento de financiamento das estruturas partidárias e das campanhas eleitorais, seja por caixa dois, como no caso mensalão, seja como caixa um, como no caso do petrolão. Fato é que o chamado mecanismo encontrou um modelo especialmente desenhado para prosperar. É o que vem acontecendo sistematicamente no Brasil desde a redemocratização.

Fernando Henrique procurou racionalizar o sistema, blindando algumas pastas e loteando o restante do governo. Ministérios como Saúde, Fazenda, Planejamento e Educação, por exemplo, ficaram blindados. Já outros, como Minas e Energia, Indústria e Comércio, Transportes e Trabalho passaram a fazer parte do balcão do negócios para formação de uma base aliada sólida.

Da mesma forma ocorreu o desmembramento de pastas, como forma de atender os partidos aliados. Figueiredo governou com 16 ministérios, Sarney com 22, Collor reduziu para 15, Itamar voltou modelo de 22 e Fernando Henrique foi além, com` 25. Lula ampliou para mais de 30 e Dilma chegou aos 39. Temer possui 29. Bolsonaro deseja governar com algo em torno de 15 ou 16 ministérios, um sinal de que haverá um movimento contrário ao modelo de presidencialismo de coalizão.

Pela primeira vez desde a redemocratização teremos nomes técnicos ocupando as pastas. Aqueles anunciados até aqui são a prova cabal deste movimento. O grande desafio será enfrentar e reinventar o modelo em voga desde o governo Sarney. A profunda renovação observada no Congresso Nacional pode ajudar nesta tarefa, mas se o objetivo é mesmo fundar um novo sistema, uma reforma política se tornará ponto fundamental neste processo. O diagnóstico está certo: o sistema vigente alimenta a corrupção e precisa ser enfrentado. O próximo passo é saber o exato caminho para reformar o modelo apodrecido. O governo Bolsonaro já apontou sua direção: conservador nos costumes, liberal na economia, reformador na política, reorientando inclusive as relações externas. Uma mudança profunda que moldará o formato do país nas próximas décadas.

quinta-feira, novembro 01, 2018

Xerife Moro

A notícia do dia é que Sergio Moro aceitou o convite do Presidente-Eleito Jair Bolsonaro para ocupar um remodelado e poderoso Ministério da Justiça. Nesta pasta estarão concentrados todos os órgãos de controle e instrumentos de combate à corrupção do país. Ali estarão COAF, Transparência, CGU e o comando da Polícia Federal inserido no pacote. Moro terá todos os instrumentos possíveis para travar uma guerra sem tréguas contra a corrupção.

O movimento político de Bolsonaro foi inteligente. Carrega para seu Ministério um nome acima de qualquer suspeita e popular, alguém que personifica a moralidade que seu governo deseja encarnar. Fornece também um equilíbrio maior de forças dentro da Esplanada, permanecendo como coordenador de uma equipe de nomes competentes em seus setores, assim como foi prometido em campanha. Retira também a narrativa de militarização de seu governo, além de afastar qualquer sensação de traço autoritário usado como propaganda pelas esquerdas durante as eleições.

Na esfera internacional os benefícios também são grandes. Ao trazer Moro para coordenar as estratégias contra o crime organizado em nível nacional, os demais países começam a olhar para o Brasil com outros olhos, sem o receio de que o próximo governo tenha qualquer laço com práticas anti-democráticas, assegurando o império da lei como modelo institucional. Nada mais republicano.

No âmbito da Lava Jato, o receio é que a operação sofra alguns atrasos, pois as defesas irão usar o argumento da troca de magistrado nos processos para tentam atrasá-los, afinal, haverá um novo Juiz na frente da Operação Lava Jato em Curitiba. Nos próximos meses, quando muitos políticos perderão o direito ao Foro Privilegiado e deixarem seus cargos eletivos, as investigações ganharão impulso, com uma série de prisões, começando mais um capítulo deste processo.

Moro terá diante de si cerca de dois anos para organizar o sistema anti-corrupção e de segurança pública, pois especula-se que a promessa seja de que ele será o próximo indicado para o STF, provavelmente na vaga do decano Celso de Mello. Percebe-se que o tempo é curto e o trabalho profundo. O novo ministro terá que dedicar-se intensamente ao trabalho na pasta. Para isso, nada melhor que um nome técnico-estratégico como de Moro.

Moro ganhou um desafio. Bolsonaro fez um gol de placa.


quarta-feira, outubro 31, 2018

Quarto Poder

A grande imprensa bateu muito em Bolsonaro. No início não era levado a sério, mas quando seus números começaram a ficar robustos, as baterias se voltaram contra ele. Neste caso, a estratégia teve resultado oposto, pois quanto mais a imprensa batia no candidato, mais ele crescia e se consolidava. Ninguém entendeu o fenômeno que se desenhava.

Bolsonaro foi eleito dentro de uma agenda antisistema. Sua estratégia esteve calcada desde o começo neste aspecto e o enfrentamento com a mídia tradicional somente fortaleceu esta frente. O eleitorado estava ciente que buscava um nome que estivesse fora das estruturas de poder e neste caso, aqueles badalados na imprensa nacional e famosos nos corredores da política, não teriam chance.

O mais curioso foi enxergar a insistência no erro. As pautas levadas para discussão com o agora Presidente-Eleito eram sempre as mesmas, ou seja, temas que ele estava preparado para responder com desenvoltura, pois eram as pautas habituais. Ao tentar desconstruí-lo, acabaram por fortalecer seu posicionamento de outsider.

O mesmo ocorreu com Donald Trump. Enquanto a mídia engajada tentava desconstruir sua imagem, sua postura de outsider se fortalecia e seus números nas pesquisas se tornavam mais robustos. Até o final perdurou a tentativa de desconstrução de sua figura. Uma posição que acabou somente por se tornar mais um de seus trunfos. Com Trump no cargo, ainda sem entender o fenômeno, a mídia manteve-se na ofensiva. Foi música para os ouvidos do republicano.

O mesmo se repete no Brasil. Depois de ofensiva furiosa na última semana de campanha, nada parece ter mudado com sua eleição. A grande imprensa do eixo Rio-São Paulo segue na mesma linha adotada pelas publicações americanas com Trump, jogando no ataque. A falta de entendimento das estratégias políticas e de leitura do cenário faz com que a mídia siga jogando uma partida no campo adversário. Uma rejeição, que ao cegar parte do jornalismo, fez com que a imprensa tradicional perdesse o controle da narrativa.

terça-feira, outubro 30, 2018

Núcleo Duro

O pleito presidencial acabou e a nova equipe já começou seu trabalho. O Presidente Michel Temer colocou estrutura disponível para time de transição e indicou o Ministro Eliseu Padilha como líder do grupo do lado do governo atual. Temos tudo para encarar uma transição republicana, seguindo o padrão de cordialidade do atual Presidente. Do lado do novo governo, o futuro Ministro Chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni coordenará os trabalhos.

Com estes movimentos, o Presidente-Eleito vai fornecendo sinais sobre o seu núcleo duro do governo. O nome de Onyx, deputado federal como Bolsonaro, encabeça a lista ao lado de Paulo Guedes. O Vice Presidente-Eleito Hamilton Mourão completa o grupo, mostrando que não teremos uma figura decorativa no Palácio do Jaburu, mas um articulador eficiente que também circulará pelas esferas de poder. 

Este núcleo já se reuniu no Rio de Janeiro hoje. Paulo Guedes mostrou que manterá sob sua guarda um ministério da economia fortalecido, absorvendo as pastas do planejamento e da indústria e comércio. O empresariado que visitou Bolsonaro na semana que passou e solicitou a revisão desta fusão não obteve êxito. Como forma de desenvolver políticas harmônicas, tudo ficará sob a responsabilidade de Guedes. 

Outro pleito que não foi revisto reside na área de agricultura. A fusão entre as pastas da Agricultura e Meio Ambiente foi confirmada, mesmo diante da pressão de grupos contrários. 

Mais do que qualquer coisa, o que vimos hoje foi uma harmonização do discurso entre os principais membros da equipe ministerial A estrutura central de um governo reformista, como este que se apresenta, precisa estar sintonia e falar no mesmo tom, com a mesma mensagem. Hoje efetivamente começou o governo Bolsonaro. 

Lições do Pleito

Encerrado o processo eleitoral mais interessante dos últimos tempos, podemos tirar conclusões claras das mensagens emitidas pelo eleitor. Antes de qualquer coisa, havia um desejo forte de renovação. Esta tônica abalou as estruturas da política tradicional e também as correlações de poder. Mas este era apenas o primeiro passo. O caminho trilhado pelas urnas deixava claro qual o rumo que o país iria adotar ao final do pleito.

A primeira conclusão é simples. Como escrevi nesta coluna mais de um ano atrás, estávamos diante de um processo eleitoral denso, que encerra um ciclo de 30 anos da política brasileira, iniciado com a redemocratização. Nosso país tem esta característica e produz a cada três décadas uma mudança de fundo nas estruturas de poder. Um processo que começou em 2013, encontrou seu ápice em 2018. 

Dentre tantos reflexos que enxergamos neste pleito, vimos o surgimento de um movimento conservador, orgânico e que encontrou respaldo na sociedade. Pela primeira vez em muito tempo a direita conservadora encontrou candidatos que transmitissem suas plataformas e defendessem suas agendas. No mesmo lado, vimos a chegada de uma direita liberal, algo impensado até pouco tempo atrás. Em suma, mais do que qualquer movimento, 2018 serviu como renascimento da direita política. 

Certamente a realidade que se impõe ao novo Presidente está inserida dentro desta nova correlação de forças. Temos uma esquerda definida liderada pelo petismo de um lado e uma força localizada na direita liderada pelo conservadorismo. Dentro desta dinâmica, ocorrerão as negociações e a discussão da pauta do novo governo. Um binômio de forças políticas definidas que lutará para atrair os votos de um centro que se tornou um consórcio de poder liderado por partidos médios. 

Para além de tudo, 2018 inaugura uma nova forma de fazer política e também de fazer campanha. Algo que já havia ficado claro na disputa local para a prefeitura de Belo Horizonte e que tornou-se uma realidade por todo o país. O tempo de rádio e televisão não garantiu aos donos do mais largo latifúndio qualquer vantagem na disputa. Muito pelo contrário, o destaque foi para o candidato sem tempo de televisão que soube usar as redes sociais a seu favor mudando um importante paradigma das eleições brasileiras. 

Este período marca um novo começo, com a quebra de um ciclo que sobreviveu por três décadas. O novo Presidente é apenas o amálgama de uma série de insatisfações que fazem parte da vida do brasileiro, pautas difusas e de diversos grupos. Unir estas pautas dentro de uma agenda comum é o grande desafio, deslocando a narrativa para o seu campo. A partir de agora será preciso construir. Um novo caminho, sob novas bases, diante de uma nova realidade. Um novo ciclo se inicia.

sexta-feira, outubro 26, 2018

Reação Conservadora

Muitos se perguntam de onde saiu Jair Bolsonaro e a força que demonstrou possuir nesta eleição. A resposta é simples. Bolsonaro representa uma reação ao politicamente correto e a tomada das instituições pelas chamadas forças progressistas de esquerda. O candidato do PSL encarnou melhor do que ninguém as insatisfações daqueles que foram deixados para trás pelo domínio da agenda pelo viés progressista.

As políticas de esquerda, seja de cunho social democrata, como nos anos Fernando Henrique, seja da vertente sindical, nos anos Lula e Dilma, privilegiaram um resgate de uma agenda pautada por grupos específicos, que aos poucos dominaram o discurso político e as instituições. Uma visão de pensamento único que excluiu do debate liberais e conservadores, que foram colocados a margem do processo.

A Constituição de 1988 é uma das responsáveis por este processo, por fornecer enormes obrigações ao Estado e direitos difusos. Nada mais normal depois de um período autoritário, mas a fadiga desta visão de mundo também chegaria e resolveu começar a aparecer nas manifestações de 2013. Vivemos apenas o ápice deste movimento.

Por certo outro nome poderia ter capturado a vontade intrínseca do eleitorado por uma mudança de fundo no panorama político, entretanto, Bolsonaro foi aquele que se apresentou sem medo de enfrentar o lugar comum e o discurso progressista atual. Nenhum outro candidato se expôs como Bolsonaro, certamente diante do receio de não serem bem aceitos. Fato é que aquele que enfrentou abertamente o discurso progressista, conseguiu aderência nos tecidos da sociedade.

O capitão, que provavelmente se converterá em Presidente da República, lidera um processo de reação conservadora ao discurso dominante nas últimas décadas. Se conseguirá deslocar o eixo da narrativa construída por muito tempo pela esquerda, é uma incógnita, mas finalmente o eleitorado conservador encontrou um candidato para chamar de seu. A coragem em assumir estas bandeiras e lutar por elas é o grande feito de Bolsonaro. Um feito que provavelmente levará o capitão ao Planalto.

sexta-feira, outubro 12, 2018

Bolsonaro dispara em Minas

Se depender de Minas Gerais, o próximo Presidente será Bolsonaro. Depois de chegar no primeiro turno em terras mineiras com 48% dos votos contra 27% de Haddad, nas projeções atuais aparece com praticamente 70% contra 30% do petista.

Minas Gerais pode ser o fiel da balança e decidir as eleições, mas vai sempre além disso, pois é um termômetro que consegue medir com exatidão o que acontece no Brasil. As características do estado reproduzem de forma fiel o país, portanto, ao testar um candidato no estado, podemos ter uma ideia aproximada do que está acontecendo no quadro geral.

Nacionalmente, no primeiro turno, Bolsonaro obteve cerca de 46% e Haddad 29%, muito próximo dos números que obtiveram em terras mineiras. Tudo indica que a vantagem elástica que abriu no estado nas sondagens atuais, seja confirmada no quadro nacional e sua vitória seja mais contundente do que tem sido projetada.

Mesmo assim, algumas sondagens de cunho nacional trazem outro cenário, que apesar de confortável, é considerado mais apertado, o que fornece esperanças para o petismo. O sentimento geral, entretanto, inclusive pela escolha do novo Congresso, é de uma linha ascendente da direita, enquanto a esquerda segue na direção descendente. Em Minas, onde o PT ficou fora do segundo turno, Haddad segue sem palanque, visto que a maioria dos eleitores de Zema e Anastasia tendem a votar com o capitão.

A única saída para o petista é partir para o ataque e tentar atingir Bolsonaro, como tem feito. Do outro lado, a defesa também corre pela raia do contra-ataque. Será assim até o final, uma vez que o segundo turno é mais uma disputa entre as rejeições do que baseada em proposições.

Minas Gerais, assim como Ohio nas eleições americanas, deve servir de termômetro para o que deve acontecer no Brasil. Portando, se você deseja se adiantar sobre o que vem por aí neste segundo turno, fique atento a tendência do eleitor mineiro. Até o momento, o estado projeta uma vitória contundente de Bolsonaro.

quarta-feira, outubro 10, 2018

Refundação Tucana

Diante do resultado eleitoral do último domingo, não houve maior derrotado do que o PSDB. A fracasso do Presidente do partido e candidato ao Planalto, Geraldo Alckmin, foi amargo e trará muitos desdobramentos para o futuro incerto dos tucanos.

Ao perder o discurso antipetista, viu sua popularidade evaporar, com claros reflexos no tamanho da bancada eleita na Câmara dos Deputados. Com 29 parlamentares, o PSDB se tornou apenas a nona força da Casa, atrás de partidos como PP, PSD, PSB, MDB e PR. Os tucanos precisam avaliar com muita atenção os erros cometidos sob pena de entrar em derretimento. 

A troca geracional do PSDB é um assunto que vem ganhando corpo desde a votação das denúncias contra o Presidente Michel Temer. Os cabeças pretas, como são chamados os parlamentares mais jovens, entraram em conflito com os cabeças brancas, fundadores e comandantes do partido, gerando um desgaste que ainda pode ser sentido. Com a derrocada de Alckmin, a tendência é que a velha guarda finalmente abra passagem para os novos nomes, donos de votos que ainda mantém o partido de pé. 

Ao se impôr como candidato presidencial, Alckmin atingiu em cheio o partido. A falta de leitura do cenário político, que se pautou pelo conservadorismo e antipetismo, fez sua campanha naufragar. Ao atacar o líder das pesquisas, sua impopularidade disparou. Diante uma campanha refém de estratégias erradas, acabou gerando um desgaste que afetou todos os candidatos do PSDB, responsável pela derretimento da bancada na Câmara dos Deputados. 

O PSDB precisa de ser refundado por suas novas lideranças, efetivando uma mudança geracional expressa nas urnas, aposentar as antigas lideranças e abrir espaço para aqueles que hoje tem voz e voto no parlamento. Ao prorrogar este movimento, os tucanos podem estar se dirigindo para um caminho sem volta e uma derrocada ainda maior. O resgate de um partido rachado e combalido é tarefa fundamental das novas gerações de líderes tucanos.

segunda-feira, outubro 08, 2018

Eleitor em Fúria

O resultado eleitoral deste domingo deixou um recado muito claro para os políticos: o eleitor cansou. Isto tem íntima relação com o momento que estamos vivendo, de reorganização do tecido político com o fim da Nova República. As velhas práticas e estratégias não funcionam mais, assim como os nomes tradicionais e antigas alianças.

O recado começou a ser dado nas manifestações de 2013 e foi crescendo na medida que os políticos testavam a paciência do eleitor. Veio o impeachment e logo depois as eleições municipais e um grande recado. A população queria administradores novos aos invés de políticos tarimbados. Dois fenômenos explicaram isso: a ascensão de João Doria em São Paulo e especialmente a escolha de Alexandre Kalil para governar Belo Horizonte.

Aqueles que não entenderam o recado das ruas, sucumbiram na noite deste domingo. A renovação profunda do Senado deixa evidente a vontade de mudança do eleitor. Nomes da política tradicional foram abatidos por novatos e outros que não possuem sequer tradição neste meio. Houve uma mudança profunda nos protagonistas e os reflexos serão sentidos em breve.

A votação expressiva obtida por Bolsonaro está intimamente ligada ao movimento do eleitor. Existe um movimento sólido e organizado de direita no Brasil, um grupo que busca voz e participação. O deputado apenas serviu de porta-voz da soma de insatisfações de uma parcela significativa da sociedade, somada ao sentimento geral de indignação com a classe política.

A velha política se apresentou para o jogo e o resultado foi pífio. Geraldo Alckmin teve o desempenho mais fraco de um tucano concorrendo ao Planalto. A aglutinação de forças do establishment em torno de sua candidatura mostrou uma tentativa de reação da classe política, que acabou sucumbindo diante da vontade de renovação do eleitor.

Se o antipetismo tivesse se concentrado em Bolsonaro, provavelmente a fatura seria liquidada no primeiro turno. A divisão de forças jogou o embate para o final de outubro. A tendência é que seja muito disputada e aberta, apesar do petismo ter sido fortemente abatido no primeiro turno nas eleições proporcionais e para os estados.


A fúria do eleitor teve este resultado expresso nas urnas. Em três semanas saberemos se será ampliada do Congresso para o Planalto. A conferir.

sexta-feira, outubro 05, 2018

Onda Bolsonaro

Multiplicam-se no Brasil os apoios na direção de Bolsonaro. O fenômeno virou onda e a onda pode virar um efeito manada. A eleição tem chances reais de terminar no domingo.

Além das frentes parlamentares evangélica e agropecuária, o deputado começa a atrair também políticos de diferentes níveis. Candidatos aos governos dos estados que estavam com Alckmin ou Meirelles aderiram publicamente ao capitão, na tentativa de ver suas campanhas embalarem na onda do líder das pesquisas.

O movimento contrário ao PT também se espalha com rapidez, o que confere a Bolsonaro um raio maior de votos úteis que caminham em sua direção ainda no primeiro turno. Na ânsia de não ter que passar por um duelo com o partido de Lula no segundo turno, diferentes segmentos da sociedade optaram por abrir mão de seus candidatos e rumar na direção do capitão com a esperança de ver a eleição resolvida no primeiro turno.

O Nordeste, bastião petista, também começa a mandar sinais positivos para Bolsonaro. Por lá, multiplica-se o voto em um candidato a governador da esquerda, mas na direção contrária para Presidente. A onda que veio do sul-sudeste-centro-oeste parece ter chegado ao Nordeste e se o capitão penetrar no bastião petista, a campanha de Haddad pode ruir em seu principal ponto de apoio.

Identificamos como onda aquele movimento que vai ganhando força. Bolsonaro está vivenciando sua onda favorável (já experimentada por Haddad semanas atrás) no momento certo. Para vencer no primeiro turno ele precisa que este movimento tome contornos de um "efeito manada", agregando votos de todos os lados em número significativo, desidratando os outros candidatos na reta final. Se isto acontecer, as chances de vitória no primeiro turno, repito, são reais. Os primeiros sinais deste movimento já podem ser sentidos. A união das forças antipetistas em torno do capitão é o fator determinante desta equação.

quinta-feira, outubro 04, 2018

Sinal de Alerta

O sinal de alerta está ligado na campanha petista. Depois da euforia de ver Haddad crescer com o impulso fornecido por Lula e a certeza de que em um segundo turno as forças de centro seriam atraídas para o seu lado, tudo mudou com as pesquisas destas semana que mostram um crescimento orgânico de Bolsonaro.

O receio do PT é que o candidato do PSL vença no primeiro turno, terminando com a disputa já no próximo domingo. O comitê de Haddad avalia que as manifestações contra Bolsonaro no último final de semana jogaram contra a campanha petista. Impulsionaram o voto útil no campo opositor aproximando o adversário da vitória no primeiro turno. O tempo fechou no alto comando petista.

O partido de Lula está certo da vitória, porém em um segundo turno, onde conseguiria aglutinar uma rede de forças em torno do petismo. Nomes que iriam de Fernando Henrique, passando por Gilberto Kassab e desaguando em Ciro Gomes. A mensagem já estava desenhada, uma espécie de união das forças moderadas contra o radicalismo ou a prudência contra a irresponsabilidade. Haddad, por sua vez, sente-se confortável neste papel, pois como ex-Ministro da Educação, ex-Prefeito de São Paulo, advogado, mestre e doutor pela USP, além de professor universitário, tem este perfil.

Mas faltou combinar com o eleitor e a última semana de campanha começa com um forte sentimento antipetista e a formação de onda pró-Bolsonaro que pode facilmente transformar-se em efeito manada e terminar com a eleição neste domingo. As pesquisas Ibope e Datafolha, ao ajustar seus números, jogaram combustível neste movimento, que se fortaleceu com o apoio da FPA e dos evangélicos em torno de Bolsonaro.

Assim, Haddad partiu para o ataque, aliando-se a Alckmin na tarefa de tentar desconstruir o líder das pesquisas. O movimento do PT deixa claro que existe uma chance real de a eleição ser decidida em primeiro turno diante da migração do voto útil para a campanha de Bolsonaro. Haddad joga tudo nesta reta final no intuito de jogar a decisão para o segundo turno, onde o petismo teria chances de se reagrupar e tentar virar o jogo. A tarefa do PT, neste momento, é tentar frear um efeito manada, algo que poderia acabar com a campanha de Haddad e esperança de ver Lula longe de Curitiba.

quarta-feira, outubro 03, 2018

Efeito Manada

Na medida que a eleição se aproxima, a disputa se torna mais acirrada. O quadro eleitoral está praticamente definido com chances pequenas de alterações significativas. Entretanto, a estratégia do PT, de apostar na ideia de polarização pode estar começando a trabalhar contra o partido. Na medida que a campanha se acirra, o voto útil começa a se deslocar.

Fato é que os últimos dias da eleição estão sendo pautados pelo antipetismo. Uma péssima notícia para Haddad, pois é um movimento que ajuda Bolsonaro em sua tentativa de ganhar ainda no primeiro turno. Tudo indica que o petismo exagerou na dose da polarização, certos de que no segundo turno conseguiriam vencer com facilidade. Veio a tentação da soberba, que pode acabar sendo fatal.

As declarações de José Dirceu fugiram da estratégia correta. Ao dizer que o partido tomaria o poder, potencializou a mobilização antipetista e fez com que mais eleitores se deslocassem do conforto de seus candidatos para o voto útil. O mesmo ocorreu na mobilização anti-Bolsonaro no último final de semana. O movimento #Elenão acabou por gerar um efeito reverso, uma vez que diante da polarização, o #Elenão acabou se tornando um #Elesim para Haddad. Mais uma vez isto ajudou o deslocamento do voto útil para o capitão.

A consolidação na liderança e a chance real de vitória fez com que começasse um movimento de adesão a sua candidatura. Nos debates de ontem para os governos estaduais, diversos candidatos aproveitaram a chance para desembarcar em público da campanha de Alckmin e declarar apoio a Bolsonaro. Tudo isso no mesmo dia que a FPA - Frente Parlamentar Agropecuária, que congrega 210 deputados e 26 senadores de 18 partidos diferentes embarcou na campanha do capitão declarando seu apoio.

Por fim, Ibope e Datafolha, ao corrigir seus números para perto da realidade, impulsionaram um efeito manada na direção de Bolsonaro. Se o ritmo continuar, existe chance real desta eleição terminar no primeiro turno. Projeções indicam que faltariam 7 milhões de votos (ou 4,8%) para uma vitória já no próximo domingo.

terça-feira, outubro 02, 2018

Pesquisas Convergindo

A escalada de Bolsonaro não desafia a lógica. Muito pelo contrário. A pesquisa Ibope de ontem começa simplesmente a promover um alinhamento natural já esperado. As sondagens feitas pelo mercado, em especial pelo Ipespe e FSB, já colocavam o capitão do alto dos 30% tem algum tempo. Ibope e Datafolha, entretanto, insistiam em desafiar estes números.

Chegamos na semana da eleição com o Ibope aproximando sua análise da realidade, sob pena de perder credibilidade. O mesmo deve começar a acontecer com o Datafolha nos próximos dias, sendo seguido por outros institutos de pesquisa. Isto consolida o quadro eleitoral uma semana antes da eleição - o que não significa que está definido.

Nesta última semana, com o quadro consolidado, começa a se movimentar o voto útil, um elemento extremamente importante nesta eleição. Nestes dias poderemos ver o começo de um movimento migratório dos votos do centro para Bolsonaro e em menor patamar das esquerdas para Haddad. Entretanto, entre os dois, o único com chances de vencer a eleição no primeiro turno é o primeiro.

As manifestações do final de semana mostraram a tendência de polarização, enquanto a convergência da pesquisa Ibope com as de mercado evidencia também o mesmo movimento na rejeição. Nas semanas anteriores, Bolsonaro era o nome a ser batido no segundo turno, perdendo em todos os cenários. Agora, aparece em empate técnico com Haddad e vencendo em outras simulações. A rejeição de Haddad e Bolsonaro se equivale, como já antecipado pelas pesquisas BTG e XP. Um eventual segundo turno entre os dois é imprevisível.

Isto somente ajuda Bolsonaro, que pode se beneficiar do mesmo fenômeno que catapultou Doria para a vitória em primeiro turno para a Prefeitura de São Paulo. Diante do crescimento do PT, o antipetismo migrou o ninho tucano. Desta vez, pode ajudar Bolsonaro. As pesquisas podem apontar este movimento nos próximos dias. É bom estar atento.

segunda-feira, outubro 01, 2018

Voto Silencioso

Chegamos na reta final do primeiro turno das eleições com uma certeza: este é um pleito que não encontra paralelo nos anteriores. A polarização já no primeiro turno dá o tom de uma disputa que mais uma vez se dará entre petismo e antipetismo. A diferença desta vez é que os tucanos perderam o posto de antagonistas do PT, que se deslocou para Bolsonaro.

Outra característica é o voto silencioso. Os dois protagonistas do pleito guardam esta carta na manga. Ambos possuem um considerável contingente de votos de eleitores que preferem não externar sua preferência, seja pela polêmica criada em torno do capitão, seja pelos escândalos de corrupção dos governos petistas. Resta saber qual dos dois possui maior força nesta frente.

O eleitorado de Bolsonaro sempre foi mais silencioso, o que poderia causar uma grande surpresa no dia da eleição, entretanto, diante da tentativa de assassinato na mineira Juiz de Fora, este quadro passou a se alterar. O seu crescimento nas intenções de voto ocorreu de forma sólida e consistente, o que significa que não ganhou eleitores por simpatia ou pena, mas porque sentiram-se livres para assumir sua opção. Bolsonaro, em minhas projeções pré-atentado já possuía uma margem de votos perto dos 30% - sempre considerei que seu contingente de voto silencioso girava entre 5% e 7%.

Haddad disparou para o segundo lugar diante do apoio de Lula. Escrevi aqui neste espaço que o PT jamais aceitaria ser vice de qualquer outro candidato. Disse que Jacques Wagner não trocaria a segurança de um mandato de oito anos no Senado pela Bahia diante da incerteza de uma eleição presidencial, o que jogaria a tarefa no colo de Haddad. Por fim, disse que o PT chegaria facilmente aos 20%, o que realmente ocorreu. Sempre alertei para o potencial do partido.

O teto atingido por Haddad, portanto, é o total de votos petistas convictos, que votariam em qualquer nome indicado por Lula. O desafio agora é ampliar esta base, portanto, já conversa com tucanos e líderes do centrão para formar uma grande frente no segundo turno. Seguramente Haddad chega aos 20%, mas seu salto até os 25% pode se dar pelo voto envergonhado no PT. Esta é uma variável a ser considerada.

Curiosamente enquanto o petista mais cresce, maiores são as chances de Bolsonaro vencer no primeiro turno. Esta semana será decisiva no que tange a transferência de votos antipetistas que hoje ainda repousam com Alckmin, Amoedo, Meirelles e Alvaro. Se o medo do retorno do petismo atingir estes eleitores, a migração pode ocorrer em massa e de forma rápida nos dias que antecedem a eleição. Se somarmos este potencial ao voto daqueles que não assumiram publicamente a opção por Bolsonaro, o capitão pode levar ainda no primeiro turno. Como vemos, o trunfo do voto silencioso pode decidir os rumos desta eleição. 

sexta-feira, setembro 28, 2018

Polarização

A proximidade de um primeiro turno com tendência de segundo acirrou os ânimos e a militância. A mobilização antipetista por uma vitória de Bolsonaro ainda no primeiro turno é real, enquanto a expectativa petista de êxito em um eventual segundo embate se tornou uma certeza.

Os candidatos dos pelotões com menos votos continuam sua briga para desidratar Bolsonaro e chegar na reta final. Alckmin é aquele que mais trabalha neste sentido. A tática é a mesma: atingir o candidato do PSL mostrando-se como uma via mais segura de vencer o petismo no segundo turno. Até agora não funcionou. A rejeição a Alckmin é alta e seus números seguem estagnados.

A possibilidade de vitória de Bolsonaro ainda no primeiro embate ligou o sinal de alerta nas campanhas adversárias e na grande imprensa, que passou a trabalhar contra o deputado. O sistema percebeu que a possibilidade de ruptura das estruturas atuais de poder é algo realmente possível e passou a se movimentar em suas diversas frentes para evitar o pior para si mesmo. Multiplicaram-se as reportagens que atingem o candidato do PSL. Rumores e ataques são frequentes e cada vez mais agudos. A proximidade da eleição fará este quadro se acirrar ainda mais.

Do lado petista existe a certeza que a eleição levada a um segundo turno entregará a vitória a Haddad. O partido, liderado de Curitiba por Lula e pelo Brasil afora por Dirceu, costura alianças para levar seu candidato ao Planalto. No bastidores é dado como certo o apoio dos tucanos, liderados por FHC e de parte do Centrão, puxado por Kassab e Rodrigo Maia. O petismo tem certeza que, emplacando no segundo turno, chegará ao Planalto.

Ainda hoje, o STF por meio de Lewandowiski, liberou Lula para ser entrevistado pela imprensa diretamente de sua cela em Curitiba. Este movimento ajudará Haddad, trazendo Lula para os holofotes ainda no primeiro turno.

A polarização está instalada e este foi o primeiro triunfo do petismo, que trabalhou muito por isso. Para tanto, teve a ajuda da estratégia tucana, que funcionou como linha auxiliar atacando Bolsonaro. Resta saber qual das apostas vencerá: a força antipetista canalizada em Bolsonaro para terminar com a eleição no primeiro turno ou a estratégia petista de empurrar a decisão para uma segunda rodada.

quinta-feira, setembro 27, 2018

Confiança nas Pesquisas?

Os erros dos institutos de pesquisa sempre foram um ponto polêmico nas eleições. Mesmo depois de erros profundos, seguem com credibilidade na grande imprensa, que usa as pesquisas Ibope e Datafolha como faróis da opinião pública.

Mas esta eleição trouxe algo diferente. O mercado sempre realizou acompanhamento diário dos números dos candidatos, o chamado tracking. Neste ano, entretanto, passaram a fazer pesquisas periódicas que vem sendo divulgadas para seus clientes, que usam o material na orientação do seu investimento. O resultado não pode ter compromisso com o erro, uma vez que aplicações são feitas baseadas nos resultados destas sondagens.

O que chamou a atenção é a diferença dos números dos institutos tradicionais para aquelas sondagens contratadas pelo mercado. Hoje, nas projeções de primeiro turno, os números começaram a convergir, com Ibope e Datafolha se aproximando do resultado das pesquisas dos bancos. Estes conseguiram apontar antes o rumo da eleição, talvez por suas sondagens conseguirem antecipar tendências com mais eficiência do que as pesquisas usuais.

Entretanto, a divergência segue intensa nas projeções de segundo turno e rejeição. Enquanto para o mercado Alckmin e Marina lideram a rejeição, atingindo assustadores 63%, Bolsonaro aparece apenas em quinto lugar. Nas pesquisas dos institutos tradicionais, o candidato do PSL lidera a rejeição, na casa dos 40%, com Alckmin e Haddad na faixa dos 20%. A discrepância é enorme.

Isto afeta os números das projeções de segundo turno. No Ibope e Datafolha, Bolsonaro perde praticamente em todos os cenários, enquanto nas sondagens realizadas pela FSB e Ipespe, realizadas para BTG e XP Investimentos, o deputado lidera na maior parte dos cenários de segundo turno.

Diante do voto útil e da eleição plebiscitária que se instalou no primeiro turno, possuir em mãos pesquisas confiáveis podem fazer toda a diferença. O melhor é fazer suas apostas e suas escolhas baseadas em institutos confiáveis, que precisam acertar e não possuem um histórico de manipulações, erros e até envolvimento com a Lava Jato. 2018 tem mudado paradigmas. Aqui fica mais um.

terça-feira, setembro 25, 2018

Hora da Verdade

A hora da verdade chegou para Alckmin. Sem mostrar qualquer reação nas pesquisas, começa a ser rifado pelo aliados que acreditaram em seu potencial. O centrão já começou a avaliar a possibilidade de embarcar em outra candidatura que forneça perspectiva de poder.

O tucano fez a aposta errada. Partiu para uma nova batalha usando velhas armas. Enquanto apostou no poder das inserções de rádio e televisão, Bolsonaro, aquele que Alckmin enxergava como adversário, atacava nas redes sociais. Enquanto o PSDB fechou uma ampla aliança com os partidos do centrão, o PSL partiu para a disputa praticamente sozinho. O eleitorado mostrou que havia mudado, tanto na forma de se comunicar, como na forma de ver a política.

O crescimento de Haddad também está relacionado com a estratégia tucana. Ao atacar Bolsonaro, Alckmin abriu espaço para Haddad receber o apoio de Lula sem interferências ou ataques. Além disso, pode partir para uma campanha propositiva, que resgatasse a militância petista e impulsionasse seu nome para o segundo turno. Teve pista livre. Ultrapassou Alckmin e se isolou no segundo lugar. Com a estratégia errada, o ex-Governador de São Paulo transformou-se em linha auxiliar do petismo.

Os tucanos ainda acreditam que existirá um movimento de centro que impulsione seu nome para a reta final. Usam o exemplo de Aécio de 2014. Mas nada está mais distante daquela campanha do que a realidade que vivemos este ano. Os aliados de ocasião, que possuem um calibrado faro político, já enxergaram o fim da linha. O PSDB, perto das benesses oficiais e longe do pulsar das ruas, perdeu seu discurso e com isso a eleição.

Alckmin, que chegou ao segundo turno em 2006 embalado por 41,6% do eleitorado, sequer deve chegar aos 10% em 2018. O centrão, arrependido de não ter embarcado na candidatura de Ciro, já pensa no segundo turno. A hora da verdade chegou para os tucanos. Depois do pior resultado desde a fundação do partido, será um momento de reflexão, mudanças e renovação. O PSDB precisa mudar

segunda-feira, setembro 24, 2018

Petismo Vs Antipetismo

Lula entrou no jogo da política nacional durante os anos do regime militar. Foi uma tentativa de Golbery atenuar o poder daqueles que logo mais retornariam ao país com a anistia. Na ânsia de enfraquecer Arraes, Brizola e diluir o poder de fogo do antigo MDB, sob o comando de Ulysses, os militares resolveram estimular o surgimento de uma nova liderança do mesmo campo, desta vez oriunda do movimento sindical. Dividida, a esquerda teria mais dificuldades de se organizar e alcançar o poder.

A estratégia de abertura lenta e gradual de Golbery funcionou em um primeiro momento, mas acabou por fomentar a reorganização das esquerdas sob o comando sindical. Dirceu e Lula criaram aos poucos o aparato partidário que se tornaria hegemônico, sobrepondo-se aos demais líderes de mesmo corte ideológico, que de volta do exílio, viram seus partidos transformarem-se em satélites do PT.

Ao alcançar o segundo turno contra Collor em 1989, Lula consolidou seu projeto como a principal força na esquerda política. A partir daí toda eleição presidencial brasileira passou a orbitar em torno dele, seja como protagonista ou antagonista. A eleição de 2018, mesmo com o líder petista condenado e preso, se torna mais um capítulo deste mesmo enredo.

Os tucanos, que são primos ideológicos do petismo, ambos de esquerda, porém uma de corte social democrata intelectual e a outra socialista sindical, encenaram uma espécie de falso duelo desde a eleição de 1994. Jogado pelas circunstâncias no polo oposto, o PSDB, que havia apoiado Lula no segundo turno de 1989, acabou por se tornar seu principal rival.

Entretanto, a entrada de um jogador que transita pela direita, Bolsonaro, colocou os tucanos em uma posição incômoda. Acostumados a receber o voto antipetista, não souberam se posicionar quando tiveram que assumir sua própria identidade no jogo político. Reposicionados entre Bolsonaro e Lula, foram esmagados pelas duas forças antagônicas que se apresentaram nestas eleições.

Talvez por dificuldade ideológica, o PSDB não soube representar o antipetismo quando alguém de corte mais conservador se apresentou para o embate. A social democracia tucana entrou em transe diante deste cenário e o imobilismo de Alckmin é a maior tradução deste cenário nesta corrida presidencial.


De nada adianta o ex-Presidente Fernando Henrique fazer um apelo para a união das forças de centro democrático. Este é um campo político inexistente no Brasil. Mais uma vez estamos diante do duelo entre forças petistas e antipetistas e sem a força do discurso antiLula, capturado por Bolsonaro, os tucanos agora precisam enfrentar seus próprios dilemas, reduzidos ao seu real tamanho nesta campanha. Enquanto isso, a criatura de Golbery e seu partido enfrentarão pela primeira vez um projeto antagônico e de total rejeição aos rumos que o país tomou nos últimos 30 anos, seja na mão de petistas, tucanos e seus associados. A conferir.