sexta-feira, agosto 03, 2018

Escolha Prudente

A escolha de Ana Amélia Lemos como candidata a vice de Geraldo Alckmin gera desdobramentos na política nacional e regional, especialmente no Rio Grande do Sul, terra da Senadora. Os ganhos para a chapa do tucano são inegáveis, pois ela é vista como um dos melhores quadros do Congresso Nacional e pode ajudar a finalmente alavancar os números do peessedebista na disputa.

O primeiro desdobramento ocorre dentro da sucessão gaúcha, aquele que irá escolher o novo inquilino do Piratini, e o nome que deve ocupar a cadeira de Ana Amélia pelo Rio Grande do Sul no Senado. O provável deslocamento de Luiz Carlos Heinze da disputa do Governo para o Senado tem várias consequências. A principal delas é o fortalecimento do nome do ex-prefeito de Pelotas, o tucano Eduardo Leite, que assume maior protagonismo na disputa e passa a contar com chances reais de vitória.

Com Heinze chegando para disputar a vaga de Ana Amélia no Senado, o jogo presidencial no Rio Grande do Sul também fica embaralhado, uma vez que o deputado do PP era o principal palanque de Bolsonaro no estado. A ideia era impulsionar a votação do capitão usando a enorme penetração do Progressistas nas cidades do interior. Nesta nova configuração, Heinze tem grandes chances de conquistar o Senado, herdando os votos de Ana Amélia, e Alckmin desmonta a principal base de apoio de Bolsonaro no Rio Grande. Uma manobra inteligente.

A eleição para o Senado, entretanto, não está decidida. Heinze precisará trabalhar para não correr o risco de ser surpreendido. Além do mais, os bastidores informam que os números de Ana Amélia não eram tão robustos como pareciam. Havia desconforto com alguns prefeitos e um racha na sua base de apoio no interior. Sua reeleição não era considerada garantida. Assim, explica-se em certa medida o aceite para ocupar a vice de Alckmin.

O impacto para o eleitorado da Senadora também não foi dos melhores. Como defensora da Lava Jato, muitos estranharam o acordo com Alckmin, que hoje carrega o centrão e possui ligações fortes com Michel Temer. A escolha de Ana Amélia distancia um pouco mais a chapa do governo, mas gera, especialmente para os apoiadores da Senadora gaúcha, uma sensação grande de desconforto.  Em caso de derrota, ela precisará reconstruir sua imagem.

O movimento de Alckmin é correto se considerarmos a velha política – sua aliança com o centrão. Desde o princípio vem trilhando este caminho. A aposta pode alçar seu nome ao segundo turno, entretanto, diante dos novos ventos na política e do ímpeto de renovação, surge na contramão da tendência do eleitorado. No papel, Alckmin está fazendo tudo certo, mas falta acertar com o eleitor, que vem rejeitando esta postura. Ana Amélia talvez seja a opção que mais aproxima Alckmin deste movimento, uma opção prudente. Se irá funcionar, somente as urnas irão responder.

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