sábado, setembro 14, 2019

Falha no Sistema (12/08/2019)

Em evento na última semana, o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia,  disse que Bolsonaro era “produto de nossos erros”, se referindo a classe política. Este mea culpade Maia, parte integrante do establishment, torna-se interessante na medida que ele se coloca como um dos responsáveis pelo desenho do cenário que levou Bolsonaro ao poder.

O modelo desta eleição estava desenhado desde o princípio. O país passava pelo ápice do desgaste da Nova República, um modelo político que nasce com a redemocratização, encerrando um ciclo de 30 anos. Este fenômeno marcou também a eleição que levou Collor ao poder 1989. Logo, o cenário de 2018 não dialogava com 2014. Ao contrário, era uma reedição do pleito de 1989 e venceria aquele candidato que conseguisse fazer esta leitura e adaptar sua estratégia em torno desta narrativa de renovação.

O eleitorado buscava alguém que incorporasse o espírito do outsider, um nome que se apresentasse como uma opção de fora do sistema. Certamente Maia, que buscou a indicação do Democratas, passava longe desta realidade. O mesmo ocorria com Alckmin, que se impôs como candidato sem entender que não havia espaço para seu nome no desenho político-eleitoral do ano passado. 

Curiosamente, tanto tucanos quanto democratas, possuíam dois nomes fortes que poderiam ter mudado os rumos da eleição presidencial. Do lado do PSDB, João Doria havia desenhado sua narrativa exatamente de acordo com o perfil desejado pelo eleitor. Antipetista, outsider, um nome novo na política, capaz de transmitir a mensagem de renovação que o eleitorado desejava e a bordo de um partido com estrutura nacional. 

No Democratas, Ronaldo Caiado também era um nome extremamente competitivo. Tradicionalmente antipetista, possuía também outro traço interessante, pois ao contrário da maioria esmagadora da classe política, se manteve combativo durante a gestão Temer. Incorporava o conservadorismo presente na eleição ao mesmo tempo que transitava com desenvoltura pelo agronegócio, força motriz da economia brasileira. Ambos tornaram-se governadores. Doria ganhou em São Paulo e Caiado obteve uma vitória épica em Goiás. 

Maia, portanto, está certo quando fala que a vitória de Bolsonaro foi “produto de nossos erros”. Ele chegou ao poder pelas mãos da incompetência e vaidade de líderes políticos que não entenderam o cenário eleitoral. Bolsonaro teve pista livre para tornar-se representante de uma direita política desorganizada com força de movimento, sendo a única opção real de reação natural da sociedade. Enquanto candidato, não conheceu adversários, pois aqueles que supostamente eram seus concorrentes, estavam em descompasso com o tom da eleição. Bolsonaro, melhor do que a classe política, entendeu a saturação do modelo e soube apresentar-se como a alternativa desejada pelo eleitorado. Carente desta visão, o establishment, perdeu para si mesmo. Um caso típico de falha do sistema.

Nenhum comentário: