terça-feira, janeiro 28, 2014

Comunicação Presidencial

"Ele deverá, de tempos em tempos, prestar informações ao Congresso sobre o Estado da União e recomendar medidas que julgar necessárias". Assim indica a Constituição dos Estados Unidos em seu segundo artigo, na seção de número três. Assim fazem os Presidentes americanos todo ano, reportando-se ao Congresso sobre as medidas tomadas e as iniciativas futuras. Obama cumprirá hoje pela sexta vez com sua obrigação constitucional.

Até a introdução maciça dos meios de comunicação, os Presidentes não tinham o hábito de realizar discursos. Muito pelo contrário. Não era bem visto ao Presidente que se expusesse desta forma. Lincoln, um grande orador, fez uma brilhante campanha embalado pela oratória, contudo, durante os anos aqui em Washington cumpriu a regra. Pouco se comunicou com o público além dos históricos momentos de sua posse e depois com o discurso de Gettysburg. Um dos motivos do processo de impeachment de Andrew Johnson, que sucedeu Lincoln, foi justamente seu hábito de realizar discursos e movimentar a sociedade.

Isto realmente mudou. Truman, por exemplo, em um ano durante sua Presidência, fez 88 discursos públicos. Reagan, o grande comunicador, que ensaiava todos os seus textos chegou a marca de 300 e Bill Clinton ultrapassou os 500. Se Andrew Johnson tivesse se tornado Presidente 100 anos depois, como ocorreu com Lyndon Johnson, certamente não teria vivido a mesma pressão.

Como historicamente os Presidentes se comunicavam pouco, o Estado da União era a grande oportunidade que os mandatários da Casa Branca tinham para expor sua visão sobre o país de forma clara e objetiva. Desta forma, este momento tornou-se um marco no calendário político dos Estados Unidos. O ritual permaneceu através dos tempos e hoje continua sendo um instrumento importante de comunicação política. Mesmo após o advento do rádio, televisão, internet e suas diversas plataformas, que tornou a palavra do Presidente acessível e diária, a tradição anual permanece - agora com as mídias exercendo um papel seminal.

Hoje pela manhã fui informado que Obama trabalha com sua equipe no discurso deste ano, que será realizado dentro de algumas horas, desde novembro. Ele precisa recobrar a confiança dos americanos diante de um parlamento hostil e dividido, mas que o próprio Presidente, como resultado de sua maneira de governar e negociar, ajudou a dividir e confrontar. Mais do que uma obrigação constitucional, desta vez Obama lutará pela sobrevivência de uma Presidência que nunca esteve tão desacreditada. Mais que um dever, uma necessidade.

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