segunda-feira, março 08, 2010

A Questão Serra

Muito tem se especulado sobre as reais chances de José Serra na corrida presidencial. Segundo alguns, sua demora em assumir a candidatura faz com que a candidata do PT tenha terreno livre para crescer. Discordo de muitos desses pontos, que repetidos exaustivamente, já são tomados como verdade.

Pesquisas realizadas muito tempo antes da eleição, sem a definição clara dos candidatos, não conseguem retratar o cenário de disputa, uma vez que a campanha ainda não está nas ruas. Neste cenário pré-eleitoral, Serra aparecia, em março de 2009, com 47% de preferência do eleitorado. Dilma chegava a 13% e Heloísa Helena a 15%, no cenário sem Ciro Gomes. Com o deputado cearense na disputa, Serra cravava 35%.

Em análises, consideramos que os números de Serra deveriam ainda descer deste patamar, incluindo-se neste ponto dois fatores importantes: a entrada da popularidade de Lula carregando sua candidata, bem como o natural descenso daquele que à época, era praticamente o único candidato na disputa.

Argumentar que os números de Serra desceram porque ele ainda não entrou na disputa ou porque sua popularidade diminuiu é um erro de cálculo grave em análise política. Vejam que o cenário com Ciro na disputa trazia, há um ano, Serra com 35%.

Os números apresentados neste momento mostram o retrato do início da campanha eleitoral. Com Ciro, Serra possui 32% e sem Ciro na disputa, Serra obtém 38%. Vemos, portanto que a oscilação de Serra em um ano, sem campanha, não foi substancial como se imagina, ou seja, 9 pontos sem Ciro e 3 pontos com Ciro no cenário.

Vale lembrar que Serra mantém seu patamar sem campanha nas ruas, o que leva a crer um alto grau de consolidação deste voto, sendo difícil arrastá-lo para outro competidor. Entretanto, em campanha ele tem a possibilidade de resgatar os pontos perdidos até o momento, pois estes eram, em tese, votos com tendência para sua candidatura. Serra tampouco teve exposição na mídia, foi capa de revistas semanais ou deu entrevistas como candidato - todos elementos que tendem a alavancar ainda seus números.

Os de Dilma, ao contrário, subiram na escala proporcional ao envolvimento de Lula em sua caravana, bem como na esteira da popularidade do Presidente e presença constante na mídia e do patamar base de votação petista, que oscila nos 30%. Ela deve subir mais e chegar pouco acima dos 30% no cenário sem Ciro Gomes.

Portanto, assumir que Serra está sofrendo desgaste por não assumir sua candidatura é um erro de cálculo. Até o momento, sua decisão de centrar seus esforços no governo de São Paulo e evitar a antecipação da sucessão não alterou substancialmente sua intenção de voto e deixou-o fora dos ataques de seus opositores que visam desgastar sua imagem. Seu eleitorado não foi abalado, portanto foi a estratégia política correta até o momento.

A cautela que Serra traz em seus movimentos políticos denotam que ele não entrará na disputa para fazer figuração. Entrará para vencer, ciente da oscilação de seus números de acordo com seus movimentos políticos, que até o momento, ao contrário do que é veiculado na mídia, são extremamente favoráveis. Para vencê-lo, o PT precisará de análise política apurada e estratégia bem calculada.

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