segunda-feira, maio 27, 2013

Perdão, Africanos

E o Brasil mais vez perdoa dívidas de países africanos. Uma política que começou durante o governo Lula seguiu o mesmo rumo na administração Dilma. Desta vez foram 900 milhões de dólares em perdões e renegociações, mas na sua maioria, perdão de dívidas africanas com o Brasil. Congo-Brazaville, Tanzânia e Zâmbia tiveram as maiores boladas perdoadas, mas o saco de bondades dos brasileiros se estendeu por mais nove países.

Existem dois vetores estratégicos destes perdões. O primeiro deles é tornar o Brasil uma "nação amiga" da África, obtendo apoio maciço dos países deste continente em fóruns internacionais. O Brasil galga, aos poucos, uma estratégia dentro das Nações Unidas para levá-lo a uma cadeira permanente do Conselho de Segurança. A estratégia, neste sentido, é obter o apoio do maior número de países. A África, com dezenas deles, tem um peso decisivo em muitos fóruns.

O outro vetor é econômico. O Brasil tem interesses na África. Tem interesse em suas commodities. Empresas brasileiras têm contratos polpudos com muitos países do continente, assim, para facilitar o acesso e as portas abertas dos africanos para as grandes empresas brasileiras, nada melhor do que o governo se mostrar "amigo da África".

Ambas vetores desta política são passíveis de críticas. O primeiro é volátil. Nada pode garantir que interesses pontuais possam mudar o voto dos africanos nos fóruns internacionais. Como não há agenda e entendimento comum, traçar acordos de longo prazo, muitas vezes com ditadores que podem cair a qualquer momento, se torna um movimento arriscado.

Quanto ao viés econômico, sabemos que pouco a pouco o Brasil tem começado a ser visto como explorador pela população africana. A Vale, por exemplo, já sente na pele este reflexo. Não há nada que o governo brasileiro possa fazer que altere este estado de coisas. Na verdade, perdoar a dívida nada altera isso, uma vez que os benefícios de um perdão jamais chegam a ter reflexos diretos para a população de países pobres e com altas taxas de corrupção.

Já está na hora de o Brasil adotar medidas mais pragmáticas de política exterior. Brincar de superpotência na África já deixou de ter graça.

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