sexta-feira, maio 21, 2010

Sócrates escapa da degola em Lisboa

A crise européia por pouco não fez sua primeira vítima política. José Sócrates, o Primeiro-Ministro socialista de Portugal, enfrentou uma moção de censura no Parlamento em função dos ajustes que deve promover para evitar que Portugal tome o rumo grego.

A iniciativa da censura, entretanto, não veio do bloco conservador, mas da extrema esquerda, desgostosa com os rumos mais ortodoxos que as contas públicas devem tomar nos próximos anos. Apesar de socialista, Sócrates precisa tomar algumas medidas liberais, que desoneram o Estado. Mesmo contra suas convicções, é a única saída. Isto desagradou os comunistas.

Se de um lado o plano dos socialistas visa reduzir programas de assistência e cortar gastos da administração pública, do outro, vem acompanhado de um aumento de impostos, exatamente onde reside o principal erro dos ajustes propostos por Sócrates. É preciso fazer o contrário, desonerar os geradores de riqueza para que a arrecadação suba. Onerando ainda mais a produção, sua medida pode agravar a crise no médio prazo em Portugal.

Exatamente por isso, o bombardeio, além de vir dos comunistas, chegou também por meio dos conservadores, que pressionaram o Primeiro-Ministro durante o debate de mais de quatro horas com perguntas.

Ao fim, Sócrates ganhou algum tempo. A moção dos comunistas não prosperou porque os conservadores não deixaram. O bloco de extrema esquerda obteve apenas 29 votos. O bloco de direita PDS/CDS-PP garantiu a permanência de Sócrates, abstendo-se com seus 88 votos. Os 91 deputados socialistas apoiaram o Primeiro-Ministro.

Sócrates, entretanto, recebeu um aviso. Precisará negociar seu ajuste, talvez com a oposição, se deseja manter-se no governo. A moção de censura mostrou que existe possibilidade real de seu governo cair se a crise chegar até Lisboa. Os conservadores já avisaram que sua posição tem prazo de validade.

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